PAULO ROSENBAUM
Vamos dar um breve contexto sobre a origem da pergunta acima. A medicina é uma área particularmente sensível às novas tecnologias: o desenvolvimento das técnicas diagnósticas e a da pesquisa de fármacos mobilizam o grosso da atenção da indústria voltada para o campo da saúde. Não há a menor dúvida de que os recursos disponíveis para que o médico diagnostique e trate aumentou de forma espetacular nas últimas décadas. Por outro lado, existe uma espécie de mal-estar difuso nas sociedades modernas. Este mal-estar não é propriedade particular das áreas da saúde, mas são nelas que se sentem melhor os impactos. As sociedades são cada vez mais violentas e competitivas. Associe esta característica à falta de sentido e significado relatados por jovens e adultos e talvez possamos compreender a atual epidemia de quadros depressivos. Neste tipo de contexto qual seria o papel do médico? Alguns argumentam que sempre foi assim. Pode ser verdade. Mas há uma diferença. Agora tudo é mais rápido e intenso. Por imposição do relógio as relações se tornam cada vez mais pontuais. Isto afetou inclusive as relações entre médicos e pacientes. Funciona mais ou menos assim: a necessidade de ser eficiente por parte do médico; diagnosticar corretamente, pedir exames, prescrever uma terapia segura e baseada em evidências é atropelada pelo tempo. Nada sobra do tempo para que cada um conte sobre a história dos sintomas que incomodam. Os médicos entraram num dilema e tiveram que escolher. Acuados, sentiram que tinham de mirar um único foco: miraram a doença. Mas há uma nítida volta a uma preocupação maior com o paciente e com a qualidade da presença no cuidado. As provas estão espalhadas por ai: médicos de família, medicina centrada no paciente, só para citar algumas tendências mais contemporâneas. Como apontei acima a medicina homeopática é uma especialidade que tem de se preocupar com tudo que preocupa a medicina como um todo. Mas a diferença realmente importante talvez seja nunca ter aberto mão, na verdade não poderia fazer isso, de ouvir histórias. Estas histórias são os relatos que as pessoas fazem, e desejam fazer, de seus problemas. E na maioria das vezes trazem assuntos que aparentemente não estão no domínio imediato de uma terapêutica médica. Junto com sintomas, falam de problemas pessoais, da vida familiar, dos negócios, da preocupação com o futuro, das crises que marcam os ritmos da existência, da própria noção do tempo que está passando. É deste ponto de vista que a homeopatia é uma medicina à moda antiga. Qualquer médico deve ter os pés no presente, mas precisa perceber que pacientes sejam eles do século passado ou do atual são pessoas que não podem separar a história de suas doenças de suas biografias. E há um detalhe importante: estes dados não servem somente para fortalecer a relação médico-paciente, mas para buscar formas mais individualizadas de terapêutica. Principalmente achar os medicamentos mais apropriados e fazer as orientações devidas para cada sujeito. Estar enfim disposto a cuidar. Toda medicina parece já saber disto, mas ela sempre esteve muito viva na tradição homeopática. Um médico que trata vários membros de uma mesma família ou uma comunidade adquire rara experiência e intimidade nesta interação. A maioria da sociedade — e não importa como julgamos esta informação ainda enxerga no médico um confidente, um amigo que pode opinar e interferir. Mesmo naquelas áreas que teoricamente estariam fora de sua alçada profissional. A homeopatia permanece como uma tradição médica. Preservou o ritmo de uma anamnese (recordação dos sintomas) muito abrangente, sem abandonar o presente. O médico especialista em homeopatia sempre deve considerar os limites de cada técnica médica e saber que o realmente importante é oferecer medicamentos seguros, além de orientações para a manutenção de uma vida saudável. Como testar tudo isso? Como se comunicar com a mídia? Quais são os limites e os alcances da medicina homeopática? Estes são estes alguns dos tópicos do XXIX Congresso Brasileiro de Homeopatia que ocorrerá em setembro na Cidade de São Paulo. Médicos homeopatas dispõem de tempo à moda antiga e os pacientes, mesmo na pressa do dia a dia, agradecem.
* PAULO ROSENBAUM, Doutor em Ciências pela FMUSP, Médico especialista em Homeopatia e escritor.
Fonte: https://www.diariodecuiaba.com.br/artigo/homeopatia-uma-medicina-a-moda-antiga/320685