INFORME DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS

PERGUNTAS E RESPOSTAS PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE E PARA O PÚBLICO EM GERAL
(Atualizado em 29/01/2020)

·         O que são coronavírus?

Os coronavírus (CoV) compõem uma grande família de vírus, conhecidos desde meados da década de 1960, que receberam esse nome devido às espículas na sua superfície, que lembram uma coroa (do latim corona). Podem causar desde um resfriado comum até síndromes respiratórias graves, como a síndrome respiratória aguda grave (SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome) e a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS, do inglês Middle East Respiratory Syndrome). Os vírus foram denominados SARS-CoV e MERS-CoV, respectivamente.

 

·         O que é este novo coronavírus?

Trata-se de uma nova variante do coronavírus, denominada 2019-nCoV, até então não identificada, isolada na China em 07/01/2020. O novo coronavírus foi identificado em investigação epidemiológica e laboratorial, após a notificação de uma série de casos de pneumonia de causa desconhecida a partir de 31/12/2019, diagnosticados inicialmente na cidade chinesa de Wuhan, capital da província de Hubei.

Este é o sétimo coronavírus conhecido capaz de infectar humanos, incluindo o SARS-CoV e MERS-CoV.

 

·         Qual a origem do surto atual?

A origem ainda não está elucidada. Acredita-se que a fonte primária do vírus seja animal, provavelmente em um mercado de frutos do mar e animais selvagens vivos em Wuhan. Estudo inicialmente publicado pela revista Journal of Medical Virology relata que o novo coronavírus pode ter em morcegos a sua  origem. Outro estudo publicado no New England Journal of Medicine demonstrou que o vírus apresenta elevada similaridade (85%) com o SARS-CoV, vírus da epidemia de 2002-2003

Pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China avaliaram animais selvagens do mercado e, em cerca de 30 destes, foram encontradas evidências do 2019-nCov.

 

·         Os coronavírus podem ser transmitidos de animais para humanos?

Sim. É possível a transmissão de animais para humanos após mutações, o que se denomina species jumping. Por exemplo, o SARS-CoV e o MERS-CoV surgiram em morcegos, e tiveram como hospedeiros intermediários gatos-de-algália e dromedários, respectivamente, e estes transmitiram aos humanos.

 

·         A transmissão do coronavírus acontece entre humanos?

Sim. Alguns coronavírus são capazes de infectar humanos e podem ser transmitidos de pessoa a pessoa pelo ar, por meio de tosse ou espirro, pelo toque ou aperto de mão ou pelo contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido então de contato com a boca, nariz ou olhos. Alguns vírus de transmissão aérea são altamente contagiosos, como o sarampo, enquanto outros são menos. Ainda não está claro com que facilidade o 2019-nCoV é transmitido de pessoa para pessoa.

 

·         Há transmissão sustentada do novo coronavírus?

Sim, somente na China, por enquanto, relata-se transmissão sustentada do vírus de pessoa a pessoa.

 

·         Os animais de estimação em casa podem disseminar o novo coronavírus?

Até o momento, não há evidências que animais de estimação, como cães e gatos, possam ser infectados pelo novo coronavírus. Entretanto, é sempre importante lavar as mãos com água e sabão após contato com os animais.

 

·         Qual é o período de incubação do novo coronavírus?

Ainda não há uma informação exata. Presume-se que o tempo de exposição ao vírus e o início dos sintomas varia de 2 a 14 dias, segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que este período seja de 2 a 10 dias.

 

·         Qual é o período de transmissibilidade do novo coronavírus?

Esta informação ainda é desconhecida. Investigações mais detalhadas são necessárias para determinar se a transmissão do novo coronavírus pode ocorrer a partir de indivíduos assintomáticos ou durante o período de incubação.

 

·         Quais são os sintomas de uma pessoa infectada pelo novo coronavírus?

Os sintomas incluem febre, tosse e dificuldade respiratória. Porém, as pessoas com infecção podem não ter  sintoma,  ou  apresentar  um  quadro  semelhante  a  um  resfriado  comum,  até  casos  graves  com pneumonia e insuficiência respiratória.

Crianças de baixa idade, pessoas acima de 60 anos e pacientes com condições que comprometem a imunidade podem ter manifestações mais graves.

Recomendamos evitar os termos “nova gripe causada pelo coronavírus” porque gripe é uma infecção respiratória causada pelo vírus influenza.

 

·         Uma pessoa pode ser infectada mais de uma vez pelo novo coronavírus?

Ainda não se sabe. Estudos são necessários para que tenhamos esta resposta.

 

·         Qual é a letalidade do novo coronavírus?

Devemos acompanhar a evolução da epidemia. Pelos dados oficiais publicados, a estimativa inicial é de que a letalidade seja de 2 a 3%, inferior à do SARS-CoV e do MERS-CoV. Segundo a OMS, a epidemia  de SARS registrou 774 óbitos em todo o mundo com 8096 casos em 2002/2003, ou seja, uma taxa de letalidade de 9,5%. Já a epidemia de MERS notificou 858 óbitos dos 2494 casos desde setembro de 2012, demonstrando uma taxa de letalidade de 34,4%.

 

·         Como é feita a confirmação do diagnóstico do novo coronavírus?

Exames laboratoriais realizados por biologia molecular identificam o material genético do vírus em secreções respiratórias, colhidas por aspiração de nasofaringe ou swabs combinado (nasal/oral) ou também amostra de secreção respiratória inferior (escarro ou lavado traqueal ou lavado bronco alveolar).

 

·         Existe um tratamento para o novo coronavírus?

Não há um medicamento específico. Indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos. Nos casos de maior gravidade com pneumonia e insuficiência respiratória, suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica podem ser necessários.

 

·         Em casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus, tomar Tamiflu® (oseltamivir) não melhora?

Não. O oseltamivir está indicado somente para tratamento e prevenção de infecção pelo vírus influenza.

 

·         Posso tomar um antibiótico para prevenir contra o novo coronavírus?

Não. Antibióticos não estão indicados nem para prevenir nem para tratamento, pois não agem contra vírus, somente bactérias.

 

·         Existe uma vacina para o novo coronavírus?

Como a doença é nova, não há vacina até o momento.

 

·         Tomei a vacina contra a gripe. Estou protegido contra o novo coronavírus?

Não. A vacina da gripe protege somente contra o vírus influenza.

 

·         Como reduzir o risco de infecção pelo novo coronavírus?

  • Evitar contato próximo com pessoas com infecções respiratórias agudas;
  • Lavar frequentemente as mãos por pelo menos 20 segundos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o meio ambiente e antes de se alimentar. Se não tiver água e sabão, use álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível;
  • Usar lenço descartável para higiene nasal;
  • Cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir;
  • Evitar tocar nas mucosas dos olhos;
  • Higienizar as mãos após tossir ou espirrar;
  • Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
  • Manter os ambientes bem ventilados;
  • Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.

 

·         Funcionários de uma empresa que estavam a trabalho na China retornaram ao Brasil. Eles podem voltar a trabalhar normalmente? Caso não, durante quanto tempo devem ficar afastados?

Não. Considerando que ainda não se sabe com certeza se o vírus é transmitido por pacientes sem sintomas ou durante o período de incubação, o ideal é permanecerem afastados por 14 dias.

·         Qual é a definição de caso suspeito?

Há três possibilidades para a definição um caso suspeito do novo coronavírus, conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde do Brasil:

  • Situação 1: Febre E pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, batimento das asas nasais, entre outros) E histórico de viagem para área com transmissão local, de acordo com a OMS, nos últimos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas; OU
  • Situação 2: Febre E pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, batimento das asas nasais, entre outros) E histórico de contato próximo de caso suspeito para o coronavírus nos últimos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas; OU
  • Situação 3: Febre OU pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, batimento das asas nasais, entre outros) E  contato  próximo  de  caso  confirmado de  coronavírus em laboratório, nos últimos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.

OBSERVAÇÕES:

  1. Febre pode não estar presente em alguns casos como, por exemplo, em pacientes jovens, idosos, pessoas com baixa imunidade ou que em algumas situações possam ter utilizado medicamento antitérmico. Nestas situações, a avaliação clínica deve ser levada em consideração e a decisão deve ser registrada na ficha de notificação.
  2. Contato próximo é definido como: estar a aproximadamente dois metros de um paciente com suspeita de caso por novo coronavírus, dentro da mesma sala ou área de atendimento, por um período prolongado, sem uso de equipamento de proteção individual (EPI). O contato próximo pode incluir: cuidar, morar, visitar ou compartilhar uma área ou sala de espera de assistência médica ou, ainda, nos casos de contato direto com fluidos corporais, enquanto não estiver usando o EPI recomendado.

 

·         Qual é a orientação diante da detecção de um caso suspeito?

Os casos suspeitos devem ser mantidos em isolamento enquanto houver sinais e sintomas clínicos. Paciente deve utilizar máscara cirúrgica a partir do momento da suspeita e ser mantido preferencialmente em quarto privativo. Qualquer pessoa que entrar no quarto de isolamento, ou entrar em contato com o caso suspeito, deve utilizar equipamentos de proteção individual (preferencial máscara N95, nas exposições por um tempo mais prolongado e procedimentos que gerem aerolização; eventualmente máscara cirúrgica em exposições eventuais de baixo risco; protetor ocular ou protetor de face; luvas; capote/avental). Além disto, todo caso que se enquadre na definição de caso suspeito deve ser notificado por meio de comunicação mais rápido possível (telefônico ou eletrônico), em até 24 horas.

 

·         Temos casos do novo coronavírus no Brasil?

Até a publicação deste documento, o Brasil não tem casos registrados da doença.

 

·         Estão contraindicadas as viagens para a China e para os países com casos importados?

Com as informações atualmente disponíveis para o novo coronavírus, a OMS recomenda que medidas para limitar o risco de exportação ou importação da doença sejam implementadas, sem restrições desnecessárias ao tráfego internacional. Entretanto, o Ministério da Saúde do Brasil e o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) recomendam que viagens para a China devam ser realizadas somente em casos de extrema necessidade, medida sugerida também pela Sociedade Brasileira de Infectologia.

 

·         O que fazer em caso de viagem para área com circulação do novo coronavírus, caso não possa ser adiada?

Proteger-se, lavando as mãos frequentemente com água e sabão ou higienizando-as com álcool gel 70%, cobrindo a boca e o nariz ao tossir e espirrar, com o antebraço ou usando lenço descartável, evitando o contato com pessoas que apresentem febre e sintomas respiratórios, comendo carne e ovos bem passados, esquivando-se de contato com animais selvagens vivos ou de fazenda.

 

·         Quais são as orientações para viajantes que retornam da China?

Os indivíduos que retornaram da China dentro de um período de 14 dias e que apresentem febre e sintomas respiratórios devem procurar a unidade de saúde mais próxima imediatamente e informar sobre a viagem.

 

·         O Brasil adotará medidas de triagem de entrada no país para viajantes provenientes de outros países, especialmente da China?

Não. As evidências científicas não demonstraram efetividade na aferição de temperatura de viajantes vindos de áreas com circulação do vírus. O Ministério da Saúde do Brasil está adotando outras medidas, como avisos sonoros nos aeroportos, distribuição de pôsteres, folhetos, boletim eletrônico, com o objetivo de alertar os viajantes sobre os sinais e sintomas da doença. Desde o dia 24/01/2020, os aeroportos começaram a veicular avisos sonoros da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) em português, inglês e mandarim sobre o coronavírus. A mensagem, com duração de um minuto, alerta sobre os sintomas da doença e informa sobre medidas para evitar a sua transmissão.

·         Se o novo coronavírus chegar ao Brasil, o país tem estrutura para combate-lo?

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem um sistema de vigilância renomado e preparado para enfrentar o novo coronavírus. O Centro de Operações de Emergência monitora a situação e coordena a ação de controle da doença em todo o país.

 

·         Há risco de epidemia global?

Sim, mas não há motivo para pânico. O Comitê de Emergência da OMS declarou no dia 23/01/2020 que seria cedo para declarar a situação como emergência em saúde pública de interesse internacional naquela ocasião. Neste momento, a OMS classifica a situação como sendo de muito alto risco na China e de alto risco em nível regional e global. Isto não significa ainda que a entidade tenha declarado emergência global.

 

FONTES: Ministério da Saúde do Brasil / ANVISA / Organização Mundial da Saúde (OMS) / Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

 SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA

  • Presidente: Dr. Clóvis Arns da Cunha
  • Coordenador Científico: Dr. Sérgio Cimerman
  • Participaram da elaboração deste documento: Dr. Leonardo Weissmann, Dra. Tânia do Socorro Souza Chaves, Dra. Sylvia Lemos Hinrichsen, Dr. Clóvis Arns da Cunha, Alberto Chebabo, Dr. Sérgio Cimerman e Dra. Nancy Cristina Junqueira Bellei.

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